quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Generoso Subsídio de Desemprego

Aconteceu no Telejornal de ontem à noite.
A dado ponto do alinhamento das notícias, José Alberto Carvalho fez-se eco dum desabafo do Sr. Dr. Vítor Constâncio, douto Governador do Banco de Portugal, assacando as culpas da má 'performance' da evolução do (des)emprego em Portugal ao "generoso subsídio" que o Estado continua a pagar aos desempregados de longa duração.
Senti de imediato o impulso de concordar com a douta justificação do douto Governador, e de me sentir (como direi?) cúmplice pateta de tal estado de coisas, ao recordar um familiar que está no desemprego há mais de um ano, por não lhe terem renovado o contrato de trabalho na empresa em que até então estava colocado. (Processo no Tribunal do Trabalho, mas o leitor reconhecerá que a "justiça" serve para defender interesses dos mais poderosos, e não para proteger as lesões dos mais desfavorecidos).
Vou passar ao largo das dezenas de candidaturas que já enviou neste interim, às quais a maior parte das empresas nem sequer se dignaram dar resposta (certamente por falta de "perfil adequado"), as habituais respostas evasivas que as outras tomavam no final das entrevistas de selecção ("lá para sexta feira, contactamo-lo...) e as rescisões precipitadas ao fim de dias ou semanas de trabalho, em jeito de profilaxia contra a epidemia dos "contratos sem prazo", como agora se designam os contratos definitivos.
E o meu familiar lá se vai governando com o "generoso subsídio" equivalente ao rendimento social de inserção (RSI), e sobrevivendo com o contributo monetário dos familiares!...
Só gostava de sugerir ao douto Doutor Vítor Constâncio uma experiência "radical": que renunciasse temporariamente (três mesitos chegavam...) às funções que (não duvido) tão competentemente desempenha, que "esquecesse" os rendimentos e património que tem acumulado ao longo da sua vida, e que o Senhor Governador se "governasse" com o RSI durante esse lapsozinho de tempo. E que depois disso se pronunciasse "ex catedra" e com conhecimento de causa sobre esse flagelo que cada vez mais avassala a nossa sociedade, rasgando os sábios relatórios que por certo recebe da sua grande corte de assessores e outros 'ores'.
Melhor ainda: experimente o Senhor Governador criar 150 vagas nos quadros do Banco de Portugal, a que soberanamente preside, e verá de imediato surgirem milhares de candidatos e, depois, reduzir na proporção a chaga dos "generosos subsídios" que tão sabiamente critica.
(Eu sei, eu sei que também há gente em Portugal com o 'perfil' denunciado pelo Dr. Constâncio. Mas é sempre mau pôr os ovos todos no mesmo cesto!...).

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