sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Desdizer antes o que se vai dizer a seguir

Manuela Ferreira Leite (MFL) tem o "encargo" de, semana sim, semana não (salvo erro), apresentar no Caderno Economia do Expresso, no canto inferior direito da primeira página, um comentário sucinto, no que se pretenderá ser um espelho do "estado da (gover)nação".
O comentário publicado no dia 29 de Novembro tem por título "Sintomas Preocupantes", e debruça-se sobre a candente questão dos "rankings", para se fazer eco de notícia recente sobre o assustador 26.º lugar do nosso país (entre um total de 31) num dos ditos cujos: o do "sistema de cuidados de saúde ao consumidor na Europa".
Antes, porém, de entrar na "ordem de trabalhos", MFL não resistiu à tentação de dar uma aguilhoada no nosso Ministro das Finanças a propósito do mesmo tema ("rankings"), em termos que merecem bem ser classificados nos lugares cimeiros do "ranking" do cinismo: "não cito o caso do ministro das Finanças português que não escapou ao último lugar num conjunto de 19 ministros das Finanças...".
Ou seja, talvez querendo fazer de nós parvos, "não citando", cita mesmo! E logo numa área em que MFL está habilitada a falar "ex-catedra" e é detentora de inegáveis pergaminhos, pois também "já foi" re-ministra, inclusive da mesma pasta que ora foi objecto de "rankização".
Mas, exactamente por o ter sido, parece que deveria ter tido mais pudor em "(não...) atirar pedras" subliminares ao seu homónimo de ministério em exercício, tanto mais que o seu (dela ministério) nem sequer deixou grandes saudades - pelo que, se nesse tempo já houvesse "rankings", podia muito bem ter ficado classificada "atrás do último"!
São mesmo "sintomas preocupantes"...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Resgate de Fundos - Tripla Surpresa

O Diário de Notícias de hoje dedica a página 17 (DINHEIRO) do suplemento do "DN Bolsa" ao aumento das queixas relacionadas com os Fundos de Investimento, num artigo subscrito pelo (suponho eu) Jornalista Pedro Ferreira Esteves, intitulado "Queixas nos fundos aumentam com crise".
No final do artigo, são descritos diversos "Exemplos de queixas", um dos quais sob a epígrafe "Antecipar o futuro no momento do resgate".
Ali se refere que "Um participante num fundo de investimento decidiu resgatar as suas aplicações, devido ao impacto negativo que a crise financeira estava a ter nas suas aplicações (...) tendo ficado surpreendido com o facto de lhe ter sido dito que o resgate seria calculado não com a cotação do pedido, mas sim com o preço do dia útil seguinte (...) Uma situação que lhe causou alguma perplexidade e motivou um pedido de esclarecimento/queixa à (...) Sefin".
Ouvido sobre este tema, como é referido na mesma página, o Presidente da Sefin, António Júlio Almeida, põe-se inequivocamente do lado dos queixosos, argumentando que "muitos dos participantes não têm a noção dos riscos que assumiram porque não lhes foi dada informação sobre as características dos produtos", "há práticas abusivas de diferentes tipos" e "tem de haver mais transparência neste mercado".
Ninguém me encomendou o sermão, mas sinto-me com alguma legitimidade para opinar sobre este assunto, quer porque sou há muitos anos subscritor ocasional de fundos de investimento (talvez desde que estes instrumentos de aplicação financeira foram lançados e dinamizados em Portugal), quer porque penso ter uma noção da forma como habitualmente os Bancos e as sociedades gestoras lidam com esta área de negócio.
Choca-me, por isso, que o dito participante tenha ficado "surpreendido" por saber que o resgate seria feito à cotação do dia útil seguinte. De facto, todos os fundos com que lidei tinham, pelo menos, essa cláusula de resgate (excepção, talvez, para os certificados de aforro, mas estes não são verdadeiramente "fundos de investimento", mas sim aplicações de poupança), havendo mesmo alguns que impunham um pré-aviso de prazo superior. E os potenciais subscritores eram sempre avisados pelos empregados dos Bancos sobre essa matéria. Mais ainda: se a subscrição for feita através da internet, o pedido só é confirmado depois de o subscritor ler as condições de funcionamento do Fundo e 'clicar' no comando "aceito"! Por isso, ou as regras e as práticas mudaram muito em época recente, ou o autor da queixa, ao invocar a "surpresa", apenas o faz porque isso favorece as suas conveniências. (Sim, sim, também vi o meu dinheiro perder valor por causa da crise que se vive no mercado de capitais, mas só me culpo a mim próprio por andar distraído, ou por acreditar demais nos "amanhãs que cantam").
Do mesmo modo, surpreende-me que o Jornalista se faça eco das queixas (esta e as outras) que chegaram ao seu conhecimento sem, ao que parece, tentar averiguar se as mesmas queixas tinham, ou não, fundamento. (Veja-se, também, a "estória" intitulada "De helicóptero até ao Alentejo". Será que as unidades de participação não estavam já contratualmente vinculadas à garantia dos empréstimos?).
Estranho, finalmente, que o Presidente da Sefin "alinhe" ostensivamente ao lado dos queixosos contra os "inimigos" da Sociedade que dirige, sem ao menos um pequeno aparte a referir que "as queixas nem sempre têm razão de ser ou fundamento bastante".
É o país que temos!...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Generoso Subsídio de Desemprego

Aconteceu no Telejornal de ontem à noite.
A dado ponto do alinhamento das notícias, José Alberto Carvalho fez-se eco dum desabafo do Sr. Dr. Vítor Constâncio, douto Governador do Banco de Portugal, assacando as culpas da má 'performance' da evolução do (des)emprego em Portugal ao "generoso subsídio" que o Estado continua a pagar aos desempregados de longa duração.
Senti de imediato o impulso de concordar com a douta justificação do douto Governador, e de me sentir (como direi?) cúmplice pateta de tal estado de coisas, ao recordar um familiar que está no desemprego há mais de um ano, por não lhe terem renovado o contrato de trabalho na empresa em que até então estava colocado. (Processo no Tribunal do Trabalho, mas o leitor reconhecerá que a "justiça" serve para defender interesses dos mais poderosos, e não para proteger as lesões dos mais desfavorecidos).
Vou passar ao largo das dezenas de candidaturas que já enviou neste interim, às quais a maior parte das empresas nem sequer se dignaram dar resposta (certamente por falta de "perfil adequado"), as habituais respostas evasivas que as outras tomavam no final das entrevistas de selecção ("lá para sexta feira, contactamo-lo...) e as rescisões precipitadas ao fim de dias ou semanas de trabalho, em jeito de profilaxia contra a epidemia dos "contratos sem prazo", como agora se designam os contratos definitivos.
E o meu familiar lá se vai governando com o "generoso subsídio" equivalente ao rendimento social de inserção (RSI), e sobrevivendo com o contributo monetário dos familiares!...
Só gostava de sugerir ao douto Doutor Vítor Constâncio uma experiência "radical": que renunciasse temporariamente (três mesitos chegavam...) às funções que (não duvido) tão competentemente desempenha, que "esquecesse" os rendimentos e património que tem acumulado ao longo da sua vida, e que o Senhor Governador se "governasse" com o RSI durante esse lapsozinho de tempo. E que depois disso se pronunciasse "ex catedra" e com conhecimento de causa sobre esse flagelo que cada vez mais avassala a nossa sociedade, rasgando os sábios relatórios que por certo recebe da sua grande corte de assessores e outros 'ores'.
Melhor ainda: experimente o Senhor Governador criar 150 vagas nos quadros do Banco de Portugal, a que soberanamente preside, e verá de imediato surgirem milhares de candidatos e, depois, reduzir na proporção a chaga dos "generosos subsídios" que tão sabiamente critica.
(Eu sei, eu sei que também há gente em Portugal com o 'perfil' denunciado pelo Dr. Constâncio. Mas é sempre mau pôr os ovos todos no mesmo cesto!...).

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"Ajudar as Crianças de Sichuan" ou A Camisola de Cristiano Ronaldo

A "notícia" já não é bem fresca, mas acabei de a ler na Revista "Única" do Expresso de 13 deste mês. De acordo com a local, a comunidade luso-chinesa decidiu criar a AVITS, uma associação de apoio às crianças vítimas do sismo de 12 de Maio. Segundo a mesma notícia, terá partido de Cristiano Ronaldo uma das primeiras iniciativas de solidariedade: autografou duas camisolas para serem leiloadas. Lida a notícia, dei comigo a extravasar de entusiasmo e prenhe de desejo de também aderir a uma iniciativa semelhante, na proporção dos meus recursos por cotejo com os do nosso (quase) imberbe milionário. Mas, como os meus recursos são, a acreditar na imprensa desportiva e 'rósea', de nível muitas centenas de vezes inferior aos dele, além de que não sou, como ele, figura pública e "vendável", sinto alguma perplexidade em decidir que fazer. Mas, como diz o ditado (chinês?), "quem não sabe para onde vai, já chegou". Por isso, aqui vai a minha contribuição: desafio cada um dos leitores deste blogue a enviarem para a AVITS uma pequena contribuição de 5 (cinco) euritos para a finalidade acima descrita. Tenho plena consciência de que, como a média dos meus leitores não deve exceder os 0,000005 por ano, pouco vou conseguir ajudar. Mas, ao menos, também vou ter oportunidade de ser solidário com o dinheiro dos outros e assim fazer, como o nosso herói da pelota, "omeletes sem ovos"... E.T.: se calhar, Ronaldo até deu uma substanciosa contribuição monetária para a AVITS; mas, nesse caso, ou o craque é muito discreto acerca do modo como distribui o seu dinheiro, ou o autor da notícia só dá valor a "faits-divers".

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Açores é uma Festa

A Junta de Freguesia do Lumiar proporcionou aos seus "Fregueses" uma visita de quatro dias (três noites) aos Açores, mais concretamente à Ilha de São Miguel, em que também tive oportunidade de participar. Esta viagem proporcionou aos participantes a oportunidade de darem uma vista de olhos aos pontos de maior interesse paisagístico e etnográfico (a quase todos, diga-se em boa verdade, pois o S. Pedro não deve ter sido avisado tempestivamente da concretização da visita, e brindou-nos com um dia tempestuoso quando nos dirigíamos à Lagoa do Fogo, com chuva, vento forte, e uma terrível nebulosidade que não deixava ver um palmo à frente do nariz, como soe dizer-se).

Mas, para a viagem se tornar menos decepcionante, valeu-nos o privilégio de a visita ter coincidido com a realização das festas do Divino Espírito Santo, a poucos dias de terminarem as ainda mais famosas festas do Senhor Santo Cristo. Tivemos, por isso, oportunidade de nos integrarmos nas festividades das "vilas" mais próximas do Hotel Ponta Delgada, em que estávamos hospedados (Vila Nova e Rua da Alegria), e tomar também contacto com as festividades doutras povoações mais distantes, como Ribeira Grande e Lagoa das Sete Cidades (foto da Lagoa na imagem).

O lado mais positivo da viagem foi, no entanto, a abertura do apetite para voltar, não só para conhecer melhor a magnífica Ilha de São Miguel, como também para "espreitar" as outras oito Ilhas do Arquipélago, cada qual com a sua beleza bem característica.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Ver Lisboa no Castelo

Lisboa tem sempre novos segredos para revelar. Quem vai ao Castelo de S. Jorge, fica decerto deslumbrado com a vista magnífica que dali pode desfrutar. Mas essa não é a única "vista" da cidade a que se pode aceder do Castelo. Se tem dúvidas, procure a Torre de Ulisses, e dê um salto à Câmara Escura. Aí se pode deliciar com uma visita panorâmica de toda a cidade em volta do Castelo, da Igreja de S. Vicente de Fora ao Jardim de S. Pedro de Alcântara, do Parque Eduardo VII ao Monumento a Cristo Rei. E observar os movimentos dos Cacilheiros no Tejo, dos automóveis nas ruas circundantes, das pessoas ao longo dos passeios, ou também, se tiver sorte, a cena dum cão correndo furioso atrás dum gato na encosta do Miradouro da Graça. Tudo isto está acessível numa visita ao Castelo de S. Jorge, graças à instalação dum mecanismo inventado há cinco ou seis séculos por Leonardo da Vinci, constituído por um periscópio associado a duas lentes potentes e a um prato côncavo de grandes dimensões, onde se reflecte a imagem da cidade, acessível até ao limite da linha do horizonte e duma rotação completa (360º). E só há uma condição para se poder gozar deste magnífico espectáculo: que o céu esteja limpo e luminoso, e que o vento esteja na hora do descanso...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Uma Visita ao Planetário Calouste Gulbenkian

Sinto algum desconforto (vergonha, por que não...?) em confessar que vivo em Lisboa há mais de três décadas, e que só agora fiz uma visita ao Planetário Calouste Gulbenkian - com a agravante de que nem sequer o fiz por minha iniciativa! Mas, enfim, já posso "desarriscar" mais uma página de monumentos e locais de interesse a ver ou visitar na capital.
Integrado no Museu da Marinha, em Belém, em espaço contíguo ao não menos famoso, imponente e importante Mosteiro dos Jerónimos, O Planetário foi construído em meados da década de sessenta do século passado, num empreendimento que resultou duma parceria entre o Estado Português e a Fundação Calouste Gulbenkian, a qual se responsabilizou pela aquisição do equipamento e da cúpula interior, correspondendo a cerca de dois terços do investimento total.
Uma sessão tem a duração estimada de 50 minutos, tempo durante o qual nos é proporcionada uma "viagem", no espaço e no tempo, pelo Universo visível, com destaque para a visão das estrelas e constelações do nosso hemisfério e da Via Láctea, a apresentação de todos os planetas do Sistema Solar, a simulação do movimento aparente do Sol e do seu 'bailado' com a Lua, a demonstração dos conceitos de latitude e longitude e uma explicação sobre a navegação marítima realizada com base na orientação através das estrelas e constelações.
Uma agradável experiência, também ela sabiamente orientada por uma "estrela" dos Quadros do Planetário, que nos conduziu por espaços e tempos insondáveis, e que nos trouxe a bom porto no "timing" programado.
Com uma já longa vida de mais de 40 anos, pena é que as novas potencialidades do 'multimedia' não tenham ali já um papel de maior relevo, e que as cadeiras da "nave espacial" já se tornem um pouco incómodas para os menos jovens nesta viagem galáctica ou inter-estelar.

domingo, 2 de março de 2008

Paris Vale Bem uma Missa...?

Está nos livros, e será verídica, a afirmação de Henrique de Navarra, protestante calvinista, quando, em 1593, se viu na contingência de abjurar da religião que professava, como condição para a Liga dos Nobres permitir a sua entrada em Paris para, aí, ser sagrado como Rei Henrique IV de França.
Esta história estava bem fresca na minha memória, pois tinha acabado de ser ventilada na aula de História da Idade Moderna na Universidade da Terceira Idade que frequento, quando me foi endereçado convite para participar na Missa de abertura do Ano Jubilar da Congregação das Irmãs Doroteias, que ontem se realizou às 18,00 horas na Igreja de São João de Brito, em Lisboa, sob a presidência do Cardela Patriarca, D. José Policarpo.
Conquanto o meu primeiro impulso tivesse sido declinar o convite, por força da posição crítica que há muito mantenho quanto à validade da doutrina e do ritual religiosos, fui mesmo à Missa, pois me pareceu a melhor forma de honrar a disponibilidade das Irmãs Maria Teresa Nazaret e Maria Antónia (que me convidou), ambas aposentadas daquela Congregação, que fazem o obséquio de, em regime de voluntariado, serem, ou terem sido, minhas professoras na Universidade e, como tal, merecedoras da minha gratidão e amizade.
E, se "Paris vale bem uma missa", a amizade vale-a ainda mais...
Uma última palavra de apreço para a Congregação das Doroteias, que mantêm acesa, há 175 anos, a chama que Santa Paula Frassinetti em boa hora acendeu. (Fundamentalismos, não!...)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Mau tempo e política

Somos mesmo uns sortudos, pois até os temporais que nos assolam trazem sempre em 'post scriptum' um tímido pedido de desculpas.
Sem embargo, vão causando mossa neste ou naquele local, como os telejornais nos foram mostrando, com cenas mais ou menos dramáticas em Setúbal, Sacavém, Belas e outros locais de 'culto' para eventos desta natureza (desta vez o Tejo portou-se bem...).
Mas há sempre um factor comum, que os protagonistas ou as vítimas sistematicamente invocam no rescaldo da tragédia: a culpa é dos políticos, e em particular (no caso vertente) do Sócrates e do Cavaco, que agora são os "pais tiranos" da nossa preferência. De tal forma, que até os responsáveis das autarquias descarregam para cima das costas deles as responsabilidades que por certo lhes caberão na adopção de medidas preventivas, quais sejam a inevitável e nunca feita limpeza dos algerozes ou a proibição de construção em zonas prejudiciais para a boa gestão e ordenamento do território.
Cabe perguntar: algum dia algum político 'distraído' irá assumir a responsabilidade pessoal pelas ineficiências da gestão autárquica nesta área...?!